Tentar não tentar


Hoje decidi viver o meu dia com uma intenção específica. É sempre bom começar o dia assim.
A intenção era: não tentar, não tentar ter, não tentar fazer, não tentar ser. 
Isto porque, por vezes (ou sempre), me esforço de mais no “tentar” e crio uma pressão em mim para conseguir. Por causa disto as coisas e o dia-a-dia não flui naturalmente, mas com uma obrigatoriedade carregada.
Sendo assim, decidi imprimir neste dia a intenção de não tentar e deixa-lo fluir.
Infelizmente, devido à minha mente extra discursiva, inquisidora e analítica, dei por mim a pensar a meio da tarde que talvez me estivesse a esforçar de mais ao tentar não tentar. (LoL)
Bem, mesmo assim não me preocupei muito com isso. De que me adiantaria preocupar?
Alem disso, mais vale tentar não tentar, do que passar o dia todo a tentar tudo o que a tumultuosidade da minha mente exige. Possa, não admira que um gajo chegue ao fim do dia exausto emocionalmente.
Talvez assim, aos poucos, o retrocesso à simplicidade de tentar não tentar faça com que a intenção se torne mais natural e fluída, fazendo com que tudo o resto que lhe segue seja também fluido.
É tudo uma questão de recordação, de voltar a lembrar, de voltar ao início, tal como na meditação se processa a atenção na respiração.

Amanhã acordarei com outra intensão: não analisar e gentileza.

Parar o pensamento


Um familiar meu falou-me que no Porto, na zona de Massarelos, uma pessoa criou aulas de meditação direcionada para pessoas que não têm tempo para meditar. Ou qualquer coisa do género.
Eu pensei, o problema é sempre esse – tempo para meditar. Tempo para parar e não fazer nada. E mesmo que se tenha tempo para parar e não fazer nada, quem vai querer parar para meditar?
Prefere-se parar para não fazer nada passando três horas a ver televisão, três ou mais horas no facebook, redes sociais ou internet, ou outras coisas que deem descanso ao nosso constante controlo mental e emocional.
Mas, efetivamente, parar e não fazer nada não é parar e não fazer nada. E muitas escolhas de lazer que fazemos no nosso dia-a-dia, em vez de serem benéficas a nível mental e emocional são o oposto.
Por exemplo: o facebook desperta constantemente sentimentos de cobiça, comparações, etc. Nada saudável portanto! E sinceramente, opinião pessoal, três horas a ver televisão trás o quê de benéfico, de produtivo para nós?
Em relação à meditação muitas pessoas pensam: Então vou parar para não fazer nada e tentar não pensar? Não vejo nada de produtivo nisso.
Talvez este pensamento surja devido a uma má concepção e mito em relação à meditação. Atenção, meditar não é parar de pensar, não é possível parar o pensamento. Meditar é parar de tentar controlar o pensamento, parar de analisar, parar de planear e deixar fluir sem julgamento.
Mas isto não é não fazer nada. Este não fazer nada, em que se pára de tentar controlar, analisar, planear, acarreta em si um esforço muito peculiar, um esforço imbuído de não esforço, ou descontração.
Se isto é produtivo ou não, agora depende de cada um, da escolha de cada um, da experiência pessoal de cada um.
Por isso, fica aqui o meu voto para que parem, meditem, e não desistam à primeira.

A ponte D. Luís I e a meditação.



Vou falar sobre uma coisa bela e bonita. Interessante talvez. Uma forma para quem não faz meditação, de perceber uma sensação que surge imbuída nos sentidos durante a meditação. Pelo menos na minha.

Durante as minhas caminhadas contemplativas, as quais prazerosamente faço, aprecio atravessar a ponte D. Luís I e observar o rio Douro e a Ribeira. É uma paisagem iconicamente rústica, citadina e rural, tradicional e moderna.
Gosto de caminhar ao longo da ponte, observar este panorama, olhar para o horizonte e para as falésias distantes.
Ora, numa destas caminhadas, despertou-se em mim uma sensação estranha, engraçada e bonita.
Percebi que embora eu me estivesse a mover, as falésias e o horizonte pareciam estar parados devido à distância. O meu cérebro, habituado à percepção de “se me movo os objectos devem acompanhar esse movimento”, sentiu uma ligeira sensação de vertigem.
No entanto, o que me chamou a atenção foi o facto desta sensação ser semelhante a uma sensação meditativa, em que eu estou parado mas tudo (pensamentos e sensações) se movem. E eu os observo, quase como que de fora.

Esta é apenas mais uma “impressão mental” e por isso impermanente, talvez nem tenha significado nenhum. Mas, quando passarem pela ponte D. Luís I lembrem-se e caminhem observando o horizonte.